sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Hell

Todo esse tempo, todos esses rostos, todos esses gritos de gozo, esses abraços sem alma de manhãzinha, quando não é noite nem dia, o seu orgasmo termina então, e seus olhos se descerram, seu quarto é apenas um puteiro, Baudelaire está morto, e quem está nos seus braços é simplesmente uma puta...
Sinto frio na jacuzzi. E não bebo o champanhe dela. Velas iluminam nossas carnes umidas, griséus no luscofusco da alvorada que se insinua através das persianas, um cenário sinistro, sempre o mesmo.
Ela me beija, mas fico de olhos abertos e vejo, daqui, fios de cabelos loiro num pente, além de
embalagens vazias de brinquedo sexuais no chão.
Sinto enfado.
Ela põe La vie dártiste de Ferré e declara olhando para mim que esta música somos nós, que é a nossa história; seus olhos, esvaziados por excessos. mergulham nos meus e eu
busco encontrar minhas lágrimas, mas nada vejo. Essas notas lancinantes que perturbam a aurora e o silêncio são exatamente a nossa história abortada, risos esquecidos, sentimentos mudos, o arrependimento e sentir que está tudo acabado, e de que não resta mais nada a fazer. "Quero que tudo se dane” diz baixinho Ferré. E me diz que um dia eu poderei escrever esta canção para ela.
Passa-se sempre ao largo da felicidade,
Se você me houvesse amado... isso não seria o bastante.
E o seu deboche ilude somente por um instante o disfarce do seu desespero.
É um desses males para os quais não há cura...
A culpa não é minha.

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